Morre a atriz Chica Xavier, aos 88 anos, vítima de câncer

Com mais de 50 personagens na TV, atriz se destacou em novelas de sucesso, como "Dancin' days", "Sinhá Moça" e "Renascer"

Morre a atriz Chica Xavier, aos 88 anos, vítima de câncer
A atriz Chica Xavier em 2013 — Foto: Pauty Araujo/ Agência o Globo

A atriz Francisca Xavier Queiroz de Jesus, a Chica Xavier, morreu neste sábado, aos 88 anos, em decorrência de um câncer. Ela era uma das grandes personalidades da representatividade negra na arte brasileira. A atriz estava internada no Hospital Vitória, na Barra. A morte foi confirmada pelo neto Ernesto Xavier.

Natural de Salvador, onde nasceu em 1932, Chica mudou-se para o Rio em 1953, onde estudou teatro com Pascoal Carlos Magno. Em 1956, Chica estreava no Teatro Municipal, na histórica montagem "Orfeu da Conceição", com texto de Vinicius de Moraes. A atriz fazia o papel da Dama Negra, que simbolizava a Morte, e atuava ao lado de Haroldo Costa, Léa Garcia, Cyro Monteiro, Dirce Paiva e Clementino Kelé, com quem era casada desde então.

A estreia no cinema veio em 1962, no clássico  “Assalto ao Trem Pagador” (1962), de Roberto Farias. A estreia oficial na TV veio na novela “Os ossos do barão” (1973). Só na TV foram mais de 50 personagens, em sucessos como "Dancin' days", "Sinhá Moça" (na qual contracenou com o ator Gésio Amadeu, morto essa semana em decorrência da Covid-19), "Renascer", "Pátria minha" e "Força de um desejo".

— Eu percebi claramente que a família dela era tudo — disse a escritora Teresa Montero, autora da biografia “Chica Xavier - Mãe do Brasil”, publicada em 2013. — Fiquei uns dois anos pesquisando a trajetória dela, estive com ela poucas vezes, umas quatro ou cinco vezes, porque já nesse período ela não estava com a saúde em 100%. [...] Mas meu pouco contato foi muito importante para mim como pessoa. Ela não falava muito por causa da saúde, mas as poucas coisas foram ensinamentos.

Montero ainda destaca um aspecto da história de Chica que, segundo a própria escritora, é pouco falado: a importância da educação. De acordo com a biógrafa, esse tema era muito importante na vida da atriz e algo que ela sempre tentava passar aos filhos.

— Ela veio para o Rio de Janeiro em 1953, porque ela queria estudar para ser atriz. Ela pediu ao Anísio Teixeira [a mãe de Chica trabalhou com ele] um emprego. Se não fosse o professor Anísio, ela não teria vindo para cá. A família do Anísio acolheu ela, a Chica virou uma afilhada dele — conta Montero.

Morre a atriz Chica Xavier, aos 88 anos, vítima de câncer
Chica Xavier na novela "Sinhá Moça", em 1986 — Foto: Adir Mera

Uma de suas netas, a atriz Luana Xavier, definiu Chica como uma "mulher de amor e de fé" e destacou sua importância na luta pela representatividade negra:

— Ela sempre levantou a bandeira dela pela negritude, principalmente dentro do trabalho dela como uma artista. Ser uma artista negra no Brasil foi sem dúvidas a maior bandeira que ela pôde carregar, e sempre exaltando a importância de termos outros artistas pretos na TV — disse Luana. — Com isso, eu me senti com uma importância de dar continuidade a esse trabalho dela na TV.

$ads={1}

Luana também relembrou o quanto Chica era dedicada e apaixonada pela família:

— Assim como a biografia dela diz que a Chica Xavier é a mãe do Brasil, é assim que ela é, é isso que ela é. Ela é mãe de muita gente, tia de muita gente, avó de muita gente. Os personagens dela sempre trouxeram esse ar maternal. Então, esse é o legado que minha avó deixa.

Artistas brasileiros prestaram homenagem a Chica nas redes sociais. A atriz Tais Araújo escreveu que "o céu recebe hoje a nobreza", e desejou força à família da artista. O ator Lázaro Ramos disse que "Hoje as lágrimas correm como um rio. Dona Chica Xavier é uma das pessoas mais especiais que conheci na vida".

Os atores e ex-participantes do reality show Big Brother Brasil, Babu Santana e Rodrigo França também se manifestaram nas redes sociais. França agradeceu a "uma das maiores atrizes desse país" e Babu disse "Perdemos hoje uma mulher que era referência artística e religiosa de enorme importância na nossa cultura".

Chica também era mãe de santo na Irmandade do Cercado do Boiadeiro, terreiro que fundou há quase 40 anos. Em 1999, ela lançou o livro "Chica Xavier canta sua prosa. Cantigas, louvacoes e rezas para os orixás", prefaciado pelo grande amigo Miguel Falabella. Em 2010, recebeu o Troféu Palmares, concedido pela Fundação Palmares e o então Ministério da Cultura, por sua contribuição às artes e à  cultura afro-brasileira.

Em julho, ela e o marido, o ator Clementino Kelé, completaram 64 anos de casados. Em entrevista à coluna da jornalista Patricia Kogut, do GLOBO, os dois declararam seu amor:

— Sempre disse que me perguntam meu nome, eu digo: "Sou Chica Xavier, mas mais do que isso, eu sou Chica de Kelé” — afirmou Chica.

— Eu sempre digo que não existe Kelé sem Chica. Eu cheguei aos meus 92 anos porque a maior parte da minha vida foi ao lado dela. Eu devo tudo a essa senhora — disse Kelé.

Em nota, a TV Globo disse que a Bahia — estado onde Chica nasceu — perdeu "uma referência de sua história artística". A emissora destacou seu trabalho e sua importância para a população negra: "Uma precursora, símbolo de gerações de atrizes e atores negros, de representatividade, que trazia em cada cena ou fala traços latentes de baianidade. Nunca negou a origem. Um sorriso inconfundível, que bastava ser visto uma vez para não mais esquecer".

Além do marido,  a atriz deixa três filhos (Christina, Izabela e Clementino Junior) e três netos (Ernesto Junior, Luana Xavier e Oranyan).

Com informações de O Globo

Inscreva-se no canal do Mídia em Ação no Youtube e visite as nossas páginas no Facebook, Twitter, Instagram e Vimeo!

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem

PUBLICIDADE