Procurado pelo assassinato do ator Rafael Miguel estava até última terça-feira em Eldorado, no Mato Grosso do Sul, mas fugiu antes da chegada da polícia
O jornalismo da Record TV descobriu o paradeiro de Paulo Cupertino. O assassino de Rafael Miguel e dos pais do ator, em junho do ano passado, estava escondido na cidade de Eldorado, no Mato Grosso do Sul, mas fugiu poucas horas antes da chegada dos policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa). A reportagem, de Thaís Furlan, foi ao ar no Domingo Espetacular.
Foragido há mais de um ano, Cupertino estava até terça-feira (27) em solo sul-mato-grossense.
Paulo Cupertino, assassino de Rafael Miguel, tirou RG falso como Manoel Machado da Silva — Foto: Divulgação |
Duas notícias movimentaram as buscas nos últimos dias. Uma verdadeira, outra falsa. Na segunda feira (26), a Record TV revelou que ele conseguiu tirar um RG oficial usando dados falsos no interior do Paraná. Dois dias depois, a notícia da prisão do assassino foi alarme falso.
Em entrevista ao repórter André Azeredo, da Record TV, um irmão do foragido diz que não sabe o paradeiro dele e revela que teria dúvidas ao revelar o local em que ele estivesse caso tomasse conhecimento: “Não vou responder nada, porque para responder eu teria que saber. Qual seria minha reação ao saber e responder? Porque é difícil, pelos dois lados é difícil”, diz José Matias Cupertino.
José Matias vive em Apucarana, no Paraná, a 77 km de Jataizinho, onde Paulo tirou um RG falso. Até onde se tem notícia, José Matias Cupertino foi o único a ter contato com o suspeito.
Infância
Irmão 17 anos mais velho que Paulo, José Matias afirma que o caçula sempre foi uma pessoa nervosa. “Eu via no Paulo muita revolta”, conta José. Segundo ele, o irmão tinha uma personalidade “brava, brava, revoltada ao extremo” e que explodia com facilidade. “Pra ele, um pingo era um temporal”, afirma. José conta ainda que o pai deles também era uma pessoa de personalidade difícil. “Muita coisa veio do meu pai”, explica.
Isabela, filha de Cupertino, e Rafael Miguel, com quem namorava — Foto: Reprodução/ Instagram |
José falou também sobre a infância na família Cupertino. ”Meu pai espancava muito nós. Marcou muito. Meu pai batia muito’, relembra. “Minha mãe ia acudir nós, [porque] ela apanhava também. Minha mãe apanhou muito. Mas o Paulo, provavelmente por ser menor ou pequeno, via tudo isso. Muita coisa ele viu”, revela.
O psiquiatra forense Guido Palomba diz acreditar que a vivência em um lar violento não é capaz de explicar o assassinato de três pessoas. “Agressividade desmedida, multiplicidade de golpes, com ausência de motivos plausíveis, ferocidade na execução. Esses individuos são incuráveis, porque é uma deformidade constitucional. Nada tem que ver com o passado deles, ou possível, digamos, vivências dolorosas”, esclarece Palomba.
Há um ano e quatro meses que a polícia tenta, sem sucesso, capturar Paulo Cupertino. ”Desde a data dos fatos que ele vem dando trabalho. Fugiu, procurou os amigos, foi pra Sorocaba, depois pra uma cidade do interior, para Campinas. Saiu com destino a Ponta Porã”, detalha a promotora Soraia Bicudo.
Certidão de nascimento
O repórter investigativo Leandro Santana, do Domingo Espetacular, já passou por diversas cidades seguindo pistas e descobriu uma série de documentos falsos e endereços ligados ao foragido.
Tudo começou com uma certidão de nascimento em nome de Manoel Machado da Silva, homem nascido em 6 de novembro de 1970 em Rio Brilhante, no Mato Grosso do Sul. É o que consta na segunda via de documento. A primeira via, no entanto, nunca existiu.
Rio Brilhante é uma cidade tranquila de 37 mil habitantes, com um único cartório. Lá, foi confirmada a falsidade da certidão em nome de Manoel. O documento não só é falso, como, descaradamente, usa o nome do diretor de presídio da cidade. A certidão serviu para Paulo Cupertino fazer um CPF também falso.
Novo RG
Com uma nova aparência, Cupertino viajou rumo ao Paraná, com destino a Jataizinho. Lá, procurou o instituto de identificação e conseguiu um feito ainda mais impressionante: forneceu uma foto real, em que aparece de barba branca, usou as próprias digitais e saiu com o RG novo, revelado pela Record TV.
A repórter Thaís Furlan conversou com o funcionário da prefeitura que atendeu Cupertino."De fato, ele deve ter ido lá mesmo, eu colhi os dados dele, a certidão, o CPF, a foto. Tirei as digitais dele, digitalizei e mandei para o instituto. Agora, eu estou sabendo aqui que a certidão é falsa", conta o funcionário, que teve a identidade resguardada.
O documento foi bloqueado pela Receita Federal.
Comprovante de residência
A última prova para confirmar a falsidade dos dados foi o comprovante de residência fornecido por Paulo Cupertino. Ele disse que morava em uma outra cidade paranaense: Ibiporã. Ou seja, o endereço não bate.
Cupertino não tem um registro de passagem pela cidade. “As investigações começaram agora. Eu não posso afirmar com certeza que ele esteve aqui. porque essa documentação pode ter sido entregue, e a gente está investigando justamente isso”, conta o delegado de Ibiporã.
A polícia agora investiga se ele recebeu ajuda de alguém para conseguir passar pela região sem deixar rastros. O único contato do acusado no Paraná - até onde se tem notícia - é justamente o irmão, José Matias Cupertino, que coordena um centro de reabilitação para dependentes químicos em Apucarana, onde vive.
“Já faz tempo que eu não falo com ele, muitos anos. Pelo fato de eu estar no campo missionário, já 30 anos praticamente", afirma o irmão mais velho do criminoso. "Só no Rio Grande do Sul eu fiquei oito anos, todos esses anos sem contato com ele. Nenhum contato. Só de vista quando eu ia na minha mãe em São Paulo, todo dia ele passava na minha mãe, ia visitar ela."
Paraguai
A polícia suspeita que Paulo Cupertino usou os novos documentos para sair do Brasil. Com documentos "regulares", ele poderia receber dinheiro em casas de câmbio.
Wanderley Senhora é amigo de cupertino e prestou depoimento. À polícia, disse que ajudou o acusado a fugir para a fronteira com o Paraguai.
Ficha no SUS
O Domingo Espetacular foi até Ponta Porã (MS). Na fronteira, ele procurou um posto de saúde. A ficha está lá: Manoel Machado da Silva. Com o mesmo CPF falso feito por Cupertino.
“Não tem certidão, nada. Nem número de identidade. Foi feito só com o CPF”, duz uma atendente. “Em algum lugar ele deve ter sido atendido. Pra estar atualizado com o endereço daqui.”
Na ficha do SUS, consta um endereço de Ponta Porã. Mais um mentira. Cupertino estaria morando em um lava rápido. Uma testemunha nega. “A gente já foi lá pra lavar o carro. Deu pra perceber que tem quatro pessoas lá, e nenhuma delas é o Paulo Cupertino.”
Outra curiosidade descoberta ao ter acesso a ficha do SUS é que Paulo Cupertino - ou Manoel Machado da Silva-, forneceu um telefone que pertence a um despachante da cidade de Ponta Porã. Aliás, dois endereços que estavam relacionados ao nome falso de Cupertino, que descobrimos em ponta porã, ficam há poucos metros de um despachante.
Um funcionário do escritório, no entanto, informou que eles só trabalham com documentação de veículos, e negou conhecer Manoel Machado da Silva ou Paulo Cupertino.
Prisão desmentida
Nesta semana, a polícia chegou a anunciar a prisão dele em Centenário do Sul, a cem quilômetros de Jataizinho, onde tirou o RG. Mas era alarme falso. Um mal entendido entre os policiais de São Paulo e do Paraná.
Desabafo de Isabela em rede social: "exausta emocionalmente — Foto: Reprodução/ Instagram/ Isabela Tibcherani |
Isabela, filha de Cupertino, desabafou nas redes sociais. Ela disse que é difícil demais lidar com tudo isso e ainda receber esse turbilhão de informações.
Desmanche
Cenário do crime
O imóvel onde ocorreu o assassinato é um cenário triste. Na casa estreita e pequena, morava uma das famílias de Paulo Cupertino. Ali vivia a filha dele, Isabela, namorada do ator Rafael Miguel, que foi executado junto com o pai e com a mãe. Ninguém mora mais lá. A casa fica ao lado de uma empresa, a oficina mecânica de Cupertino. Mas o Ministério Público e a polícia dizem que, além de oficina, o imóvel abriga um desmanche e um local de receptação de peças de veículos roubados.
A Record TV foi até lá para conversar com um funcionário dele. “Eu gostaria de encontrar pra saber como ele está, se está precisando alguma coisa”, diz o funcionário. “Mas infelizmente ele fez esta burrada, uma burrada imensa. Eu tenho certeza que ele está arrependido do que fez, isso eu tenho certeza.”
Julgamento
Sem prisão, sem julgamento
Paulo Cupertino não pode ser julgado sem estar presente ou representado formalmente por um advogado.
“Infelizmente, se esse mandado de prisão não for cumprido, existe uma regra de processo penal, que impede que um réu foragido, que não tenha sido localizado, se ele não constituir defensor, ou ingressar nos autos de alguma maneira, isso impede que o processo prossiga”, explica a promotora. ”Sem constituir defensor, não vai ser julgado. esses fatos vão acabar alcançando a prescrição.”
Tribunal da consciência
Enquanto a polícia continua atrás de Paulo Cupertino, o irmão mais velho faz um apelo para ele se entregar.
“Eu diria o seguinte pro meu irmão: primeiro, você se entrega. porque a vida de um foragido é pior que a vida de um preso. Porque o preso está conscientizado que está preso, e está conscientizado que está pagando o que fez. Ele não está pagando o que fez. A consciência dele, hoje o pior tribunal que existe é o tribunal da consciência. onde ele está, ele está sendo acusado”, diz José.
Ele acredita que o irmão mais novo esteja vivo. “Olha, eu acredito que está vivo, porque se ele estivesse morto, já tinha aparecido alguma coisa. Pelo menos alguma fala de algum lugar.”
Com informações do Jornalismo da Record TV
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